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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

(A)pago os ões

     Aprendi na claridade das velas que o “ão” tem três plurais: ães, ãos e ões. Decidi então procurar nas lamparinas do meu juízo um palavrão para ver com qual eu podia ter a luz ideia de iluminar/insultar essa cidade: dei de caras com um… apagão.

Nesses dias estar sem energia elétrica da ELETRA (por favor, não confundam com Electra) É LETRA. O mais normal assunto do dia-a-dia. Agora, por exemplo, estou a escrever este “(a)pago os ões”, porém não estou certo se a eletricamania praiense me permitirá chegar até ao fim do texto. Se não conseguirem ler até ao fim é porque houve um “black out” ou… um branco!

O normal na Cidade da Praia, num verão mornal, é a falta de energia. Todos se queixam. Eletra dos fornecedores de combustível. Fornecedores de combustível da Eletra. Eletra dos consumidores. Consumidores da Eletra. Câmaras municipais da Eletra. Eletra das câmaras municipais. Governo da Eletra. Eletra do governo. Eletra de Cabo Verde. Cabo Verde da Eletra. Eletra do planeta terra. Planeta terra da eletra… e que Deus não escute mais essa meditação.

Acho que está faltando alguém aí, heim! Quem será? Hã, bomm: Os que não consomem, ou melhor, os que não pagam pelos com-sumos. Porque estes bebem noutros fornecedores. Consomem noutros com-sumo-dores. Moram noutros municípios. São governados noutros países. Residem noutras Cascas de Banana Verde.

Casa sem luz elétrica todos reclamam, todos discutem e ninguém tem luz eletra. Os infortunados pelo azar têm a sorte de serem eles que vão pagar os com-sumos da iluminação pública porque os com-sumo-dores não estão (dis)postos a tirar o pouco da muita miséria que recebem para pagar aquilo que neles ligação ilegal na iluminação legal numa pública geral.

Quem fiscaliza a legalidade energética? Quem faz as alegadas ligações? Quem paga por elas? Quem ganha com isso? Consumidores ou com-sumo-dores?

Convenhamos que quem venha a seguir é quem está à frente. E os últimos serão sempre os últimos. E os primeiros… serão sempre os primeiros. Pago para ter luz e fico no escuro, apago a luz e lá vem a conta maior para pagar. Se não (a)pago é um (a)pagão!

“Céus! Eletra, isto é um dilema: pagar ou não pagar.” Tenho, de fato, um bilema: se não pagar, fico sem luz. Se pagar fico com apagão. Nessa empresa nada se apaga, tudo se paga… No escuro. Nessa escuridão… pago ou apago?

Se não fosse as ligações diríamos: “O último a sair apague a luz, por favor. Não! Quem sair primeiro desligue a luz e quem vier atrás… que fique no escuro” e, que no final do mês paga para não sofrer cortes, taxas de religação e juros sem pressa nenhuma.

E o que vai à frente não alumia duas vezes? Ou estou enganado, ou é a lâmpada que está fundida? Ir à frente ou não ir à frente? Eis a questão: To light or not to light? Entre “light” e “kafuka” o melhor mesmo é ter pilhas para isto porque senão… senão o quê? Ficamos sem energia!

Ricardino Rocha

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